Wednesday, June 1, 2011

Album Review #3


Álbum: Get There

Artista: Bôa
Ano:
2005

Selo:
Bôa Recordings

Nota:
8,50

Pontuação:
100



O segundo trabalho do grupo liderado pelos irmãos Rodgers traz canções com uma sonoridade similar ao Twilight, mas com uma abordagem diferente em algumas canções. Get There não é tão sombrio quanto o seu antecessor, mas possui momentos de raiva, como em Wasted e A Girl, e escuridão, como em Daylight. É uma obra mais consistente, madura, e mais uma vez ela mostra o talento dos filhos de Paul.

Não se trata de inovação per se; para um álbum lançado nos meados da década de 2000, sua sonoridade se situa em um terreno muito familiar, explorado na década de 90 por bandas como The Verve e Radiohead, e mais tarde reaproveitado por nomes como Coldplay e Travis. Mas a forma como as texturas de guitarras, com seus acordes e variações, ora dissonantes, ora harmônicos, são criados apresenta um desenvolvimento peculiar e brilhante. A voz de Jasmine, por sua vez, é sempre notável, um prodígio. Isso e tudo mais perfazem uma beleza artística que não deve deixar de ser apreciada.



Notas Individuais das Canções:


08 - Angry

09 - Get There
06 - Wasted

08 - Believe Me

08 - Courage

08 - A Girl

10 - Daylight

09 - America

08 - Older

09 - Passport

09 - Standby

08 - On The Wall



Bôa é mais uma daquelas bandas escondidas que guardam um rico conteúdo musical. Pouco conhecida, poderia fazer sucesso facilmente, não só por ter filhos de um rockstar como dois de seus membros, mas também, e principalmente, por sua alta qualidade. Quem procurou conhecer melhor seu trabalho sabe muito bem que Duvet não é a única coisa boa que fizeram, e nem a melhor, porque o que há de melhor neles está aqui, neste álbum.


Em sua primeira audição ele pode não convencer muito, mas isto é natural; muitas obras-primas da música requerem sucessivas audições e uma percepção mais profunda para a sua compreensão. Como já disse, Get There não tem nada de inovador, não é nenhum divisor de águas e (infelizmente) não trouxe nenhum impacto significativo para o cenário musical - provavelmente devido à sua humilde e fraca divulgação.


Steve, Paul e Jasmine

A banda parece ser adversa à mídia: pouca informação é encontrada, não há quase vídeos de performances deles disponíveis na internet, e seu feito mais notável até agora foi o de ceder uma canção para a abertura de um animê, o psicodélico Serial Experiments Lain (provavelmente não os teria conhecido ainda se não fosse esse ani
mê). Além do clipe original da música, o que se pode encontrar ainda é uma performance dos irmãos Rodgers como convidados do pai, que também participa. Os três cantam Drinking, a última faixa do Twilight - um momento inusitado.


Vamos, então, às músicas:



Primeira faixa do álbum, Angry é uma canção de ímpeto e fúria, como expressa o título. Tal sentimento se deve à decepção do eu-lírico por alguém íntimo, seja um familiar, um amigo ou um amante. Com sua energia, ela introduz uma dinâmica diversa daquela presente em quase todo o Twilight, conferindo ao álbum, junto de outras faixas, uma cor menos "depressiva", por assim dizer.



Em seguida, temos Get There, a música mais pop e acessível da banda em seus dois trabalhos, mesmo não sendo tão conhecida como Duvet. Ela quebra um pouco o impulso introduzido por Angry, mas traz uma melodia branda e marcante, com uma letra inteligente. "I must try to keep my focus and I know I must try to keep my head together"; são os versos do refrão, um dos meus favoritos.



Bôa na época de A Race Of A Thousand Camels

Wasted
retorna um pouco à tensão característica do primeiro álbum, e mais uma vez expressa pessimismo em seus versos ao denotar a ideia de desperdício: "Wasted, feel nothing". Seus arranjos não desapontam, mas devo confessar que alguma coisa no refrão me incomoda, na forma como Jasmine canta. Este detalhe, junto do fade-out (ao meu ver, desnecessário) no final da canção, impede-a de deixar no mesmo nível das demais, fazendo dela a canção mais fraca do álbum.



O clima parece amenizar na introdução de Believe Me, com um belo arpeggio de guitarra. Sua melodia, no entanto, progride e adquire uma roupagem mais agressiva, mas interessante. Eu a considero "irmã" de Angry por causa das semelhanças na sonoridade e no tema; ambas formariam uma bela sequência.



Courage
tem um ritmo mais lento e proporciona ao ouvinte uma sensação de bem-estar logo que Jasmine começa a cantar: "Who makes the sun shine so bright, who makes everything feel alright, you do..." O refrão, onde Jasmine parece entoar um mantra, está carregado de guitarras distorcidas e efeitos. Esta canção parece ter certa influência oriental em sua musicalidade e letra, de caráter reflexivo.



A Girl
introduz um outro approach, mais frio e soturno. Aqui, Steve utiliza várias notas e acordes dissonantes com uma dosagem equilibrada de tempestade e calmaria. A letra conta a história de um suposto homem, a quem o eu-lírico se dirige, que fracassou em seu amor por uma garota (a garota do título). Os versos do refrão dizem: "You could've made her, you know you could've made her".



Daylight
, minha preferida, traz um ambiente bastante sombrio e um tanto onírico, apesar do nome. Com duas faixas de voz nos versos, cada uma cantando letras diferentes, Jasmine parece jogar um feitiço em nossas mentes. Com as linhas de guitarra de Steve, o efeito se torna ainda mais poderoso. Eu chamaria esta canção de "irresistivelmente hipnotizante"
.


America deixa de lado a psicodelia e fala do apreço que um homem tem pelo lugar:" he's in love with America, he loves the things that he sees out there". Sua mensagem é de esperança e liberdade em uma nova terra (Bôa é britânico); um tema diferente, completado por uma excelente melodia.


Older
, em seu instrumental, é paisagística, contemplativa. "England, your fields warm me", reza um dos versos. Aqui, a voz de Jasmine mais uma vez hipnotiza os ouvidos com a sua leveza e harmonia. A poesia parece encaixar perfeitamente: "taking a breath, find the truth and be older". O significado da palavra que dá nome à canção parece estar mais relacionado à maturidade, seu aspecto positivo, do que o significado comumente atribuído, o de mudanças na aparência ou as fragilidades que o corpo adquire.


Somente uma crítica: esta canção, por seu ritmo calmo, é breve demais. Três minutos e dezessete podem não ser tão pouco assim, mas seu fade-out me pegou de surpresa, deixando um gosto de "quero mais".



Se faltou alguma coisa em Older, a próxima faixa, Passport, está de bom tamanho. De ritmo cadenciado, orientada pelo compasso de 6/8, é melancólica e comovente na letra e nos acordes, desenhados pelo timbre de belos violões e um piano. Em seu tema, a sensação é a de olhar para trás e lamentar por algo que não deu certo: "I wish that you had held on; I wish that I had been the one to help you hold on".



Para completar a seção mais forte da obra, iniciada por Daylight, temos Standby, uma canção lenta e calma. O ambiente que cria é leve e agradável; é o tipo de música para se ouvir quando se quer descansar, deitar na cama e pensar, imaginar, ou simplesmente sentir a música.



On The Wall
, a última faixa do álbum, é a mais diferente, e também a mais improvável. A sonoridade utilizada é inédita até então, uma surpresa para o estilo da banda, que é tipicamente melancólico e por vezes depressivo. O resultado é interessante, Jasmine soa mais teatral, de bom humor, e o instrumental persuade o ouvinte.

OBS: este post foi republicado.

Veja também:

Album Review #1 - Achtung Baby (U2)
Album Review #2 - Forth (The Verve)
Album Review #4 - High Violet (The National)
Album Review #5 - Bloodflowers (The Cure)
Album Review #6 - The Bends (Radiohead)

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