Bono canta Ultra Violet (Light My Way), uma das canções mais esperadas da noite (e uma das minhas preferidas)Eis o que eu chamaria de o "melhor espetáculo musical da Terra". Tudo bem que eu sou suspeito em dizê-lo, já que o U2 é a minha banda de rock favorita. O leitor tem todo o direito de discordar. Mas já fui em shows de bandas como Coldplay, Radiohead, Keane, Scorpions e, recentemente, The National - uma banda que merece destaque e respeito. Todos eles muito bons, na verdade. Mas nenhum chega perto do U2, honestamente. E não levo em consideração simplesmente o repertório - quiçá o melhor da turnê naquele dia, segundo alguns fãs - ou o estilo de música, mas a capacidade de envolver e emocionar o público.
Quem nunca foi talvez nunca entenderá o que eu estou dizendo. Eu mesmo já fui crítico desta turnê, não tendo apreciado tanto a performance da banda em sua apresentação em Pasadena, California. "Muita pirotecnia", alguns dizem. Mas não é bem assim. Estar lá é completamente diferente; é uma experiência inexplicável.
Bem-aventurados foram aqueles quase 90 mil brasileiros. E eu era um deles.
Sem mais delongas, vamos ao que interessa, o show:
Na introdução, como se sabe, toca-se um playback da música Space Oddity, de David Bowie. Antes porém, cumpre lembrar que também tocaram Minha Menina de Jorge Ben e os Mutantes; pude presenciar um bom número de pessoas cantando junto e até dançando naquele momento, inusitado e divertido.
Em Space Oddity, apareceram no telão círculos como se fossem janelas fechadas de uma espaço-nave (lembra aquele círculo do 007 quando o filme começa). Na parte da música em que entra a bateria, os círculos se abriram, aparecendo neles a imagem do quarteto irlandês entrando em cena e dirigindo-se ao palco. Nessa hora o Morumbi inteiro vibrou intensamente. O momento mais esperado daquela noite havia chegado.
Destaques do show:
Out of Control - Adam disse ao U2.com que Out of Control seria como uma alternativa para I Will Follow, que foi executada na primeira noite. Disse também que é "engraçado como as músicas do primeiro até o terceiro álbum, ainda que faça muito tempo desde o seu lançamento (praticamente três décadas), são as mais fáceis de recordar." Ou seja, tocaram-na sem ensaiar, depois de quase 5 anos sem executá-la.
A verdade é que, depois de um diferente e ótimo arranjo dado a Even Better Than The Real Thing, a primeira do show, Out of Control veio como uma surpresa. Dali em diante, tudo ficou mesmo "fora de controle", com uma sequência arrasadora: Get On Your Boots, Magnificent, Mysterious Ways, Elevation... Até passei mal, foi inevitável.
por Thiago MottaI Still Haven't Found What I'm Looking For - antes de começar, o filho da mãe do Bono iniciou os seus discursos: "we love you, but you know that, don't you?" (amamos vocês, mas vocês sabem disso, não é?) E disse que todos os grandes artistas que vinham ao Brasil diziam a mesma coisa. E daí, ele disse: "but they don't understand you the way we do." (mas eles não entendem vocês da forma que nós entendemos.)
por Cleber CasimiroDisse que vários artistas interessantes têm visitado o país com o passar dos anos - ele citou Oasis, Coldplay, Radiohead, The Killers e o próprio Muse. E então ele chegou ao ponto: "Edge is a very insecure guy and asked me to check that you don't love the other bands the way that you love us." (O Edge é um cara muito inseguro e me pediu que eu confirmasse que vocês não amam as outras bandas da forma que vocês nos amam.)
por Mrs. CatA reação do público foi ensurdecedora: todos estavam dispostos a berrar o mais alto possível para mostrar quem eles (inclusive eu) amavam mais. Não restou a mínima dúvida. E foi então que The Edge começou o arpeggio inconfundível de I Still Haven't Found; Bono puxou a multidão, que começou a cantar religiosamente. No final, quando os instrumentos abaixaram e encerraram, para somente deixar o público cantando, não aguentei - chorei que nem uma criança.
"O coração é uma flor que brota do chão rochoso. Não há nenhum quarto, nenhum lugar para alugar nesta cidade. Você está sem sorte e sem um motivo para ter que se importar. O trânsito está parado e você não está indo a lugar algum. Você achou que havia encontrado um amigo para tirá-lo desse lugar, alguém a quem você pudesse dar uma força em retorno da graça."
Regina Medeiros, 22 anos, de Natal (RN), é a jovem que foi convidada ao palco por Bono para recitar, ao seu lado, a tradução dos primeiros versos de Beautiful Day. Ao terminar de ler, Regina deu um selinho no vocalista e voltou para a pista, sob a vibração do público. The Edge começou então a tocar uma das principais canções do grupo. No final, Bono cantou versos de Sgt. Pepper's Lonely Heart Club Band, em homenagem aos Beatles.
Zooropa - àquela altura, já havíamos passado por um bom bocado: Pride (in the name of love), North Star - canção nova, que gostei e tem um refrão bem fácil de lembrar (I can't wait any longer for your love...) - Beautiful Day (sempre magnífica) e Miss Sarajevo (momento reflexão). E então, outra surpresa: quando o telão começou a esticar para baixo (coisa de outro mundo - só vendo para ter a noção da loucura que é), The Edge começou aquele arranjo psicodélico na guitarra, na base de delays (sempre) e wah-wahs. E me caiu a ficha: Zooropa!
Nunca imaginei que eles fossem tocar essa música. Tanto é que eles não a tocam desde o ano em que ela foi lançada (em 1993). Pois é, isso mesmo, é o que diz o U2.com. E ela é, sim, uma excelente canção, principalmente em shows, com todos aqueles efeitos e jogos de luz. Um presente perfeito aos brasileiros.
Crazy Tonight & Sunday Bloody Sunday - confesso que prefiro a versão original de (I'll Go Crazy If You Don't Go) Crazy Tonight, que soa bem mais a cara do U2. Mas a versão remix, de abordagem dançante e eletrônica, até que caiu muito bem no show. O video no telão, em que aparecem os quatro balançando a cabeça e fazendo gestos, é muito bacana. Sem contar com o momento em que Larry saiu para a plateia tocando djembê (também não conhecia esse nome), deixando tudo mais interessante e interativo.
Agora, soa até redundante dizer que Sunday Bloody Sunday foi um destaque do show. É sempre um momento "sagrado" em shows do U2. E ouvir quase 90 mil pessoas cantando "Sunday Bloody Sunday" é inexplicável. As cenas que apareceram no telão, então, fazendo referência às revoltas no norte da África e no Oriente Médio, deixaram tudo mais dramático e emocionante.
Walk On - em uma excelente performance, a banda fez uma homenagem à birmanesa Aung San Suu Kyi, para quem originalmente a canção foi escrita. Membros da Anistia Internacional foram convidados ao palco e entraram carregando velas. Àquela altura, já tinha até perdido a conta de quantas vezes eu tinha chorado durante o show.
1º Bis - No primeiro bis, o telão mostrou, como de praxe nesta turnê, o seguinte discurso de Desmond Tutu, bispo da Igreja Anglicana, prêmio Nobel da paz e uma das figuras centrais do movimento contra o Apartheid:
“The same people who marched for civil rights in the United States are the same people who protested Apartheid in South Africa; who are the same people who worked for peace in Ireland, and are the same people who fought against debts slavery in the Jubilee Year 2000, who are the same beautiful people that I see when I look around this place tonight in 360 degrees.
(As mesmas pessoas que marcharam por direitos civis nos EUA são as mesmas pessoas que protestaram contra o Apartheid na África do Sul; que são as mesmas pessoas que lutaram pela paz na Irlanda e são as mesmas pessoas que lutaram contra a escravidão por dívida no ano de 2000, que são as mesmas pessoas bonitas que eu vejo quando olho em volta deste lugar nesta noite em 360 graus.)
We are those people. We are the same person. Because our voices were heard, millions more of our brothers and sisters are alive. Thanks to the miracle of AIDS drugs and Malaria drugs, there will be doctors, there will be nurses, there will be scientists who will live to solve great problems.
(Nós somos essas pessoas. Nós somos a mesma pessoa. Porque nossas vozes foram ouvidas, milhões a mais de nossos irmãos e irmãs estão vivos. Graças ao milagre das drogas que tratam a AIDS e a malária, haverá médicos, enfermeiras, cientistas que viverão para resolver grandes problemas.)
Yes, there are many obstacles. Of course, there are always roadblocks in the way of justice, but God will put a wind at our back and a rising road ahead if we work with each other as ONE, ONE."
(Sim, existem muitos obstáculos. É claro, sempre haverá pedras no caminho da justiça, mas Deus soprará uma brisa em nossas costas e uma estrada se erguerá adiante se trabalharmos juntos como um só.)
The Edge, então, começou a tocar os primeiros acordes de One, uma das canções mais esperadas da noite. Pôde-se observar no telão, no decorrer da performance, cenas da banda nos tempos de Achtung Baby, em Berlim, e nos tempos de The Joshua Tree, no parque nacional de mesmo nome, na California, quando executaram Where The Streets Have No Name. Naquele instante, o público da pista encheu as bexigas amarelas que foram distribuídas antes do show e as jogaram no ar. Vendo a cena, fiz o mesmo.
2º Bis - Antecedida por uma animação exibida no telão, a banda voltou com Ultra Violet (Light My Way), em que Bono, vestindo uma jaqueta cheia de lêiseres, canta com um microfone parecido com um volante de carro, pendurado por uma corda que vem de cima. No trecho "I remember when we could sleep on stones", Bono substituiu o "microfone-volante" por um "microfone-miniatura", segurando-o apenas com a ponta dos dedos.
Em seguida, o quarteto ainda tocou With or Without You e Moment Of Surrender, quando as luzes foram apagadas e o público acendeu seus celulares e câmeras. Bono fez uma breve homenagem às crianças mortas na tragédia de Realengo.
(As mesmas pessoas que marcharam por direitos civis nos EUA são as mesmas pessoas que protestaram contra o Apartheid na África do Sul; que são as mesmas pessoas que lutaram pela paz na Irlanda e são as mesmas pessoas que lutaram contra a escravidão por dívida no ano de 2000, que são as mesmas pessoas bonitas que eu vejo quando olho em volta deste lugar nesta noite em 360 graus.)
We are those people. We are the same person. Because our voices were heard, millions more of our brothers and sisters are alive. Thanks to the miracle of AIDS drugs and Malaria drugs, there will be doctors, there will be nurses, there will be scientists who will live to solve great problems.
(Nós somos essas pessoas. Nós somos a mesma pessoa. Porque nossas vozes foram ouvidas, milhões a mais de nossos irmãos e irmãs estão vivos. Graças ao milagre das drogas que tratam a AIDS e a malária, haverá médicos, enfermeiras, cientistas que viverão para resolver grandes problemas.)
Yes, there are many obstacles. Of course, there are always roadblocks in the way of justice, but God will put a wind at our back and a rising road ahead if we work with each other as ONE, ONE."
(Sim, existem muitos obstáculos. É claro, sempre haverá pedras no caminho da justiça, mas Deus soprará uma brisa em nossas costas e uma estrada se erguerá adiante se trabalharmos juntos como um só.)
The Edge, então, começou a tocar os primeiros acordes de One, uma das canções mais esperadas da noite. Pôde-se observar no telão, no decorrer da performance, cenas da banda nos tempos de Achtung Baby, em Berlim, e nos tempos de The Joshua Tree, no parque nacional de mesmo nome, na California, quando executaram Where The Streets Have No Name. Naquele instante, o público da pista encheu as bexigas amarelas que foram distribuídas antes do show e as jogaram no ar. Vendo a cena, fiz o mesmo.
2º Bis - Antecedida por uma animação exibida no telão, a banda voltou com Ultra Violet (Light My Way), em que Bono, vestindo uma jaqueta cheia de lêiseres, canta com um microfone parecido com um volante de carro, pendurado por uma corda que vem de cima. No trecho "I remember when we could sleep on stones", Bono substituiu o "microfone-volante" por um "microfone-miniatura", segurando-o apenas com a ponta dos dedos.
Em seguida, o quarteto ainda tocou With or Without You e Moment Of Surrender, quando as luzes foram apagadas e o público acendeu seus celulares e câmeras. Bono fez uma breve homenagem às crianças mortas na tragédia de Realengo.
Set List (10 de abril de 2011)
Even Better Than The Real Thing
Out Of Control
Get On Your Boots
Magnificent
Mysterious Ways
Elevation
Until The End Of The World
I Still Haven't Found What I'm Looking For
Pride (In The Name Of Love)
North Star (An Acoustic Version)
Beautiful Day
Miss Sarajevo
Zooropa
City Of Blinding Lights
Vertigo
I'll Go Crazy If I Don't Go Crazy Tonight (Remix)
Sunday Bloody Sunday
Scarlet
Walk On
Encore
One
Where The Streets Have No Name
Encore 2
Ultra Violet (Light My Way)
With Or Without You
Moment Of Surrender
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