Saturday, August 6, 2011

Album Review #4


Álbum: High Violet
Artista: The National

Ano: 2010

Selo: 4AD

Nota: 9,65

Pontuação: 105



High Violet
talvez seja o melhor álbum que ouvi nos últimos três anos. Se eu estiver enganado, provavelmente será o segundo ou, no máximo, o terceiro. The National, como já havia afirmado anteriormente no post sobre o show, já está entre as minhas bandas de rock favoritas. E se um álbum não for o suficiente para tal, o leitor pode ouvir o Boxer que não vai se arrepender.


Já comentei exaustivamente a minha queda por bandas britânicas; a melancolia musical - embora eu me considere um cara bastante otimista e de bem com a vida - me atrai e me hipnotiza. E para quem procura melancolia, este é um prato cheio. Ele mostra claramente como uma banda pode soar rock alternativo sem soar mais do mesmo. Aqui as melodias soam frescas, grandiosas; são joias que enriquecem o gênero.




Cumpre lembrar também que os norte-americanos evoluíram muito o seu som desde Alligator. Seus trabalhos só têm mostrado grande progresso e percepção musical, ganhando a notoriedade que merecem. High Violet conseguiu alcançar a 3ª posição na Billboard 200 quando lançado, um feito difícil para uma banda indie.


Notas Individuais das Canções:


08 - Terrible Love

10 - Sorrow

09 - Anyone's Ghost

10 - Little Faith

10 - Afraid of Everyone

10 - Bloodbuzz Ohio

09 - Lemonworld

09 - Runaway

10 - Conversation 16

10 - England

10 - Vanderlyle Crybaby Geeks



Terrible Love
, quando ouvi pela primeira vez, não me empolgou muito. A sua estrutura rítmica não convencional e o dueto oitavado de Berninger me trouxe uma sensação estranha de início. Mas estranho mesmo é ter que comentar isto agora, que curto a música. É uma canção forte, enérgica, dinâmica, com uma mensagem surreal, mas interessante: “it's terrible love and I'm walking with spiders”, “it takes an ocean not to break”.

Detalhe: essa canção é ainda mais interessante ao vivo. Foi uma das últimas que executaram no show no Citibank Hall, em São Paulo. Funciona muito bem como desfecho de uma noite de espetáculo.





Posso dizer que Sorrow foi a música que me fez gostar de The National. Como muitas vezes, a sugestão High Violet foi de Bruno, um amigo que compartilha os mesmos gostos musicais. Ela expressa exatamente aquilo que eu estava procurando no momento – algo diferente, mas que ao mesmo tempo soasse familiar e acessível. É uma canção super agradável, e mais agradável ainda foi poder ouvi-la no show.

O ouvinte vai perceber ao longo deste álbum que, além da voz marcante de Berninger, o que se destaca é o trabalho de Bryan Devendorf, que cria linhas de bateria que fogem dos ritmos tão usados e até às vezes desgastados pelo mainstream. É um detalhe que, dentre outros, indubitavelmente enriquece a obra.


Anyone's Ghost
foi a primeira canção que ouvi da banda, que eu me lembre. Isto porque Bruno havia curtido muito, e por isso me mostrou uma performance da banda, que foi divulgada no site Pitchfork. Não era nada que houvesse me chamado tanto a atenção, como aconteceu com o meu amigo. Mas com sucessivas audições pude perceber a qualidade. A nota nove, portanto, foi inevitável.


Little Faith
me fez convencer que, de fato, The National não era uma banda qualquer. "So far, so good", pensei. Ela tem aquele clima frio, nublado (úmido eu diria), presente em boa parte do álbum. E não é só isso. Como já disse logo de início, era a comoção, a melancolia presente em muitas bandas britânicas que me instigava, me persuadia. Um dos meus nichos preferidos.


Afraid of Everyone
, uma de suas composições mais profundas, deve ter sido a segunda que ouvi do grupo. Na primeira audição eu já havia gostado, mas na segunda foi arrebatador. Acredito que, não somente por estar no meio, mas esta é a peça central da obra. O National sabe fazer muito bem progressões. E este é o exemplo por excelência. O trecho que conclui a música, “your voice is swallowing my soul, soul, soul” é um dos pontos mais altos de todo o álbum.




Se Afraid of Everyone já é excelente, Bloodbuzz Ohio então é mais uma generosidade da banda. De todas as faixas, esta é provavelmente a mais acessível, e de melodia mais alegre, mesmo que a letra não expresse bem o sentimento de alegria. Outro fator que diferencia o National de tantas outras bandas (como eu poderia me esquecer de citar?): o trabalho de metal, bastante perceptível aqui. É um detalhe que faz toda a diferença. Por que não? As bandas alternativas poderiam fazer maior uso desses instrumentos; faz muito bem aos ouvidos.


Lemonworld
volta ao clima frio e úmido de Little Faith, mas com uma melodia mais calma e homogênea. Não foi executada no show em São Paulo; porém tem muito o meu apreço.


Runaway
talvez seja a canção que mais foge do estilo do álbum, tendo uma abordagem mais country, eu diria, remetendo a uma sonoridade mais próxima ao Boxer. É lenta, contemplativa e tem um refrão poderoso: “What makes you think I'm enjoying being led to the flood? We got another thing coming undone and it's taking us over. We don't bleed when we don't fight, go ahead, go ahead...” Um dos meus trechos preferidos.


Conversation 16
me lembra muito o Coldplay de X&Y, o que me agradou logo de cara. O arranjo remete muito à banda britânica em seu terceiro álbum (vide Square One, White Shadows e Speed of Sound, por exemplo). É claro, The National sempre tem suas peculiaridades – a voz de Berninger, a bateria de Bryan Devendorf, e aqui o impecável trabalho de corais (outro ingrediente bem usado na obra). Este é, por sua vez, um recurso cada vez mais raro na música contemporânea mainstream – e até em muitas bandas de rock alternativo – e que poderia ser melhor aproveitado. O videoclipe é bem estranho à música – provavelmente uma paródia ao governo americano.




England
é uma das, senão a minha canção preferida do grupo. Com o seu majestoso riff de piano, ela evolui de forma imponente, tal qual o crescendo de uma orquestra. E os instrumentos, de fato, formam aqui uma orquestra pela grandeza que expressam. A melodia se torna cada vez mais cativante aos ouvidos, até alcançar o clímax: "afraid of the house, stay the night with the sinners... 'cause they're desperate to entertain". Um feito invejável.


Vanderlyle Crybaby Geeks, a última, mas não a menos importante, é, antes de mais nada, comovente. Daí vou eu dizer novamente que os caras são bons em progressão: eles compreendem a estrutura musical, onde se tem um início, meio e fim. Isto é: a música deve ter dinâmica (e sentimento). E como mostraram no show, Vanderlyle é um perfeito singalong, permita-me dizer, pois o coral de seu refrão (já falei sobre os corais antes) só nos deixa uma atentadora alternativa: cantar junto. É um convite irresistível - quem vivenciou aquele momento memorável sabe muito bem do que estou falando.


Detalhe: o que há com os caras da Allmusic? Somente 3,5 estrelas? Que te pasa? O Pitchfork, que é muito mais rígido em seus reviews, deu 8,7 (estando na Best New Music), pontuação considerada altíssima nesta mídia. Além do mais, High Violet apareceu em muitas das listas dos melhores álbuns de 2010, ganhando até o apreço de Regis Tadeu, conhecido por suas fortes críticas no mundo da música.

Veja também:

Album Review #1 - Achtung Baby (U2)
Album Review #2 - Forth (The Verve)
Album Review #3 - Get There (Boa)
Album Review #5 - Bloodflowers (The Cure)

Album Review #6 - The Bends (Radiohead)

4 comments:

  1. Essa banda eu conhecia mais de nome, pra falar a verdade. E pra ser mais sincera, não estava muito a fim de ouvir. Eu já ouço muitas bandas britânicas tristes, ultimamente tô procurando coisas mais diferentes.
    Mas cara, essa sua resenha, e ouvir as músicas nesse ensaio deste castelo, vai me fazer ouvir esse disco, e provavelmente ouvir com outros "olhos", HUAHUAUHAHUA.
    E é verdade, bandas britânicas são um máximo, principalmente pra nós que gostamos de músicas melancólicas e tristes. Outro dia estava assistindo o programa "Sound" (que eu nem assisto muito, tem bandas muito "mais do mesmo", mas eu de vez em quando vejo pra passar o tempo), e tinha uma banda de uns garotos super novos, franzinos, e com um som comum (pras bandas britânicas), mas a letra, muito boa, parecia "coisa de gente grande".

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  2. Ouvi o disco e adorei. Mas fala aí, é ou não é Joy Division puro? hehe

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  3. Algo em comum entre Ian Curtis e Matt Berninger: o vocal barítono. Daí, juntando a melancolia, ficam ainda mais parecidos. Devo confessar que conheço muito pouco de Joy Division. Conheço mais o Interpol, que também tem essa pegada post-punk melancólica (e é comparado com o JD). Qualquer dia desses, eu vou tomar coragem, e conhecer melhor o trabalho do JD.

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  4. Eu se fosse você não perdia muito tempo.
    Além de eu achar super importante escutarmos as influências das bandas que gostamos, o Joy tem letras muito boas, e sobre temas variados ainda.
    E isso ainda abre os nossos olhos, e muito.

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