Sunday, August 28, 2011

Album Review #5



Álbum: Bloodflowers
Artista: The Cure
Ano: 2000
Selo: Fiction, Elektra
Nota: 8,33
Pontuação: 75


Smith declarou uma vez que Bloodflowers é a terceira e última parte de uma trilogia, composta pelos álbuns Pornography e Disintegration, aqueles que melhor definem The Cure. Faça sentido ou não, Bloodflowers diverge dos outros dois álbuns, com uma textura mais moderna e noventista. Aqui se encontra algumas das melhores composições de Smith: Where The Birds Always Sing, uma reflexão inteligente sobre a morte, e The Loudest Sound, com uma de suas letras mais profundas.


Notas Individuais das Canções:

10 - Out Of This World
06 - Watching Me Fall
09 - Where The Birds Always Sing
09 - Maybe Someday
09 - The Last Day Of Summer
08 - There Is No If...
09 - The Loudest Sound
06 – 39
09 – Bloodflowers


Para quem gosta de relaxar e refletir, a primeira faixa deste álbum é simplesmente tudo de bom. Tudo se torna muito leve, brando, etéreo. O tema também é bastante apropriado e cria um ambiente ainda mais rico para a melodia. É como um casal, cujos amantes moram em cidades longínquas, e os encontros, pelo esforço exigido e o tempo escasso, se tornam mais intensos; cada minuto se torna valoroso. E a música se situa exatamente no momento em que ambos relembram os bons momentos, já que um deles precisa voltar para casa e retornar às obrigações do dia-a-dia: "we always have to go back to real lives, where we belong."




Watching Me Fall
tem tudo para ser uma ótima canção: ritmo contagiante, atmosfera envolvente, arranjo muito bem elaborado. Até a sua história é contada de forma curiosa, um cenário muito bem ilustrado, um homem sendo seduzido por uma mulher e tendo "boas experiências" dentro de quatro paredes. Talvez seja isso o que dê mais dinâmica à canção; porém, ainda que Smith seja bom em canções longas (The Same Deep Water As You, por exemplo), esta me pareceu um tanto longa demais, um tanto cansativa.


A terceira faixa é uma das minhas favoritas. "No, the world is neither fair nor unfair..." Esta frase soa como um mantra, cheia de significado, e retrata a realidade de forma clara e objetiva. Trata-se de pessoas que de forma repentina e precoce deixam o mundo, surpreendendo a nós e partindo os corações de seus próximos. "So going young, so much undone, it's a tragedy for everyone." Alguns morrem, outros sobrevivem; tragédias - se são justas ou injustas, não nos cabe dizer. A verdade é que o homem, que teme o seu fim, sempre tenta encontrar um significado mais profundo para as coisas, inclusive para sua vida. Eu diria que, aqui, Smith conseguiu ser bastante filosófico, e com muito sucesso.




Se se fosse escolher um single, Maybe Someday seria a canção mais apropriada. Não é difícil de chegar à conclusão de que ela é a canção mais pop e acessível do álbum. Pode-se facilmente imaginá-la tocando nas rádios, apesar de sua duração; ótima melodia (remete-se um tanto ao britpop), letra fácil e de tema comum (crise num relacionamento), abordado de maneira simples. "I get too scared to jump if I wait too long" - é o meu trecho preferido.


The Last Day Of Summer talvez seja a canção mais depressiva do álbum. Aqui o eu-lírico se encontra em uma situação de total abandono e solidão, desprovido de tudo, até de seus ideais e convicções. Imagine um mundo sem qualquer esperança. Isso é o que esta música retrata.

Detalhe: a esta altura, o ouvinte terá percebido a importância e o espaço que a banda dá ao instrumental de suas composições. É uma característica que muito aprecio e busco nas músicas sempre que possível.




There Is No If...
é, antes de mais nada, romântica. Pode soar um tanto singela em relação às demais, mas ela tem uma história muito interessante, com a qual muitos podem se identificar. Ela compara dois momentos: a primeira e a última vez em que o eu-lírico diz para sua amada "eu te amo" e a cruel conclusão que se chega em seu desfecho: "There is no always forever, just this".


The Loudest Sound, um título honroso, faz jus à canção. Pela introdução, alguns podem subestimá-la, mas ela é muito forte. Aqui há outra comparação: um casal que está lado a lado, em contemplação - eu imagino dois jovens sentados na grama, observando a paisagem, com a iminência de uma tempestade ao horizonte. Seu enredo exige reflexão; é uma canção romântica como a anterior, e filosófica como Where The Birds Always Sing. Ouvindo-a, é possível entender o que pode ser o som mais estrondoso. Aqui Smith mostrou sua genialidade mais uma vez.




39
é amarga em seu tema; seria o que Robert teria sentido ao alcançar os 39 anos? Ela demonstra com certa eficácia o desespero que se tem ao se encontrar em uma situação terminal, cujo fim trágico não se consegue evitar. Não é a vida que está em ameaça; "the fire is almost out" refere-se ao amor, ou paixão, como quer que se compreenda. "Half my life in flames" - subentende-se que o eu-lírico se sacrificou durante todo um tempo de sua vida na esperança de salvar um relacionamento, sem sucesso.


A última canção demonstra, como em tantas outras vezes, o lado trágico de The Cure, com seus temas soturnos. Uma técnica familiar de Smith é usada: a construção de um cenário perfeito, uma utopia, para depois ser desfeito em pedaços (como em To Wish Impossible Things).

É curioso observar como Smith deixa claro nesta última faixa o contraste entre o eu-lírico e sua amada. Esta, convicta de seus sentimentos, expressa um amor praticamente infalível - "this dream never ends, you said, this feeling never goes". O eu-lírico, por sua vez, falho em corresponder ao amor de sua amada, demonstra frustração e pessimismo, refutando a sua indestrutibilidade - "this world always stops, I said, this wonder always leaves, the time always comes to say goodbye". A forma como se encerra esse antagonismo é ainda mais interessante.

Embora eu não tenha achado o desfecho desta obra tão forte quanto a abertura, não deixa de ser um ótimo final, principalmente se o ouvinte estiver com o humor apropriado, pois as situações apresentadas em seu início e fim, embora ambas se tratem de impasses, são diferentes, principalmente em seus pesos - Out Of This World é sublime; Bloodflowers é turva como uma nuvem negra prestes a se precipitar.

Obs: este post foi reescrito e republicado.

Veja também:

Album Review #1 - Achtung Baby (U2)
Album Review #2 - Forth (The Verve)
Album Review #3 - Get There (Boa)
Album Review #4 - High Violet (The National)

Album Review #6 - The Bends (Radiohead)

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